terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Canção à mãe


No recanto sórdido do meu espaço,
Guardado de ti,
Por toda aquela biblioteca do saber

Favorecias, como parte de ti,
a razão do ser que só a mim pertencia...
O sofismo que rodavas no pensamento
para ser parte da tua projecção no masculino

Seria justo o sufoco,
por não quereres ambicionar mais?
(Mas que posso, eu, divagar sobre o justo...?)

Bem sei da nossa corcunda agitação.
E sei que merecias - talvez também eu merecia...

Descobri todas as questões do ser - ou não,
mas ergui-me do meu cadeirão burocrático, por ti
e limitaste-me dos numerosos senhores sem razão:
Obrigado,
Mas não podia, senhora,
Ficar apenas erguido, enquanto te deixava
Sozinha, sem mim, fazeres o meu puzzle
E levares-me o desejo teu (não meu),
Febril, orgulhoso, um desejo de fé...
de tudo aquilo que querias que fosse por ti

São árduas as linhas que te esboço.
É tarde.
As palavras escorrem pelos cantos dos olhos;
Frias que são, mas justas.
Ninguém disse, deusa da fecundidade, que seria fácil,
Mas tinha de ser...

Já não têm os números, os rostos, as vivências
Mais nada para nos dar,
E por isso tu sabes que tenho de partir.
Partir sem ti,
Como realmente tu e nós queremos,
e deixarmos de ser rascunhos de vidas opiadas
Pelo negro do que éramos outrora.
Mas agora tenho mesmo de partir...

Partir para as estrelas...

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