terça-feira, 29 de abril de 2008

Ode ao enorme lago



Oh imensidade que manejas a cidadela,
que guardas sem meandros adversos conselhos
que emancipas o desejado éter da razão
Embala-me no enleio do teu sossego

Oh azul que ouves o pouso da riqueza,
do recosto do enorme génio que descansa
dos afeiçoados que veneram o teu esplendor;
Vejo esse nosso acre modo de viver...

Oh mar que gritas o ensurdecedor do adeus
enquanto caminho no teu delicado adarve
Tu que esperas o meu embarque pelo ilustre,
Pela acalmia que causas quando te enfureces

Oh enorme lago que desvaneces em mim a tua espuma
que fazes relembrar todos os sopros da memória,
Deixa sentir o forte, o cruel, o feliz festim
Que acalenta comigo o anseio da poderosa mão

Guarda nesse profundo vazio o enorme respeito
toda a crispação da esfera do vergonhoso refém
que nos prende a vontade do usar do poder,
e que entusiasmas até o mais estéril dos homens...

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Recordação

Nesse muro do brilhante granito,
Da obsolenta varanda que adormece,
Espreito aquele doce e inocente modo...
Todo esse retrato a preto e branco

Olho para a gaveta da enorme frase;
Nela recordo todo o teu prazer sensual,
O encanto da alma, as delícias do coração,
O deslumbre da mera desordem que provocavas

Através daquele sorriso que se diluia
Recordo agora o tão delicado olhar;
Toda aquela esfera de perfeição
Que me fazia despeitar do mundano...

Vivo da tua perfeita recordação,
Do tão desejado abrir da janela,
Da abrastacta e cómoda sensação
que me fazia crescer para ti...

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Silêncio

Entro como espectador da própria escrita;
O instante, a vírgula, toda a sensação
Que impõe a representação das horas vagas

Deixo todo o ideal ascético, toda a moral
Lutarem pela platónica, subjectiva verdade
Enquanto disfruto do prazer do estoicismo;
Esta mísera condição de felicidade

Assisto à maestria do infinito movimento
O cintilar da tranquilidade da alma,
Toda a assimilação da bela, da perfeita dança,
leva à dissipada hora do esquecimento

Debruçar-me-ei sobre essa pobre mesa;
A interpelação que o tempo
me suplica a outras e tão desejadas vivências ,
O rosto da mera satisfação do poder
da enorme rejeição pela vivência mundana,
E que só agora o imperativo relógio
me abre a porta à cor do feliz silêncio

domingo, 6 de abril de 2008

Pedido



Tento descobrir o que é este desejo
Todo o argumento que desvenda o mistério;
basta olhar para o teu pequeno retrato
para tremer como um mero inocente
da sensação a que chamámos de perfeita

Esta névoa está corrompida
pelo sentimento que te apelido;
Beija, abraça, sorri-me simplesmente
Qualquer pedido parece decadente
Mas satisfaz-me esta minha tua necessidade

Deixa-me sentir só mais um instante
esse teu justo e sincero olhar
Leva-me ao estado em que aguardarei
todo o enorme segundo em prazer,
Traz contigo a roubada alegria

Traz contigo a minha descoberta
O tão enorme desejo de cumplicidade
Suporta-me nesse teu doce modo...
Faz-me renascer para o teu respeito
Para o teu ego, para a tua simplicidade

Para o teu amor...

quinta-feira, 3 de abril de 2008

A verdade

Insiro-me na metafísica do culto
Através da preversão do sacerdote
Compro a tão desejada verdade
Mas o que é a verdade?
É o tal amor escondido no oculto?

Quando o meu Fédon se questiona
A que se predestina a vida do Homem
Encontro a soberba pretensão do Anticristo
O niilismo e o dogma aliam-se
Para servir o pequeno deus do homem

Quanto mais me consumo em busca da verdade
sinto-me enojado da servidão à fé
O Homem tem de sofrer, martirizar-se
pois o perfeito ente criado pela rectidão
castiga, faz sofrer aquele que se ama a si

O saber, o conhecimento, a leitura
batalha para a pobre verdade
O dogma enraiza-se na fraca mente
Simplesmente o Homem tem de ter a doença
para alcançar a mentira da plenitude